Santos / SP - sexta-feira, 03 de maio de 2024

PERGUNTAS FREQUENTES

No passado, os assuntos relacionados com  psiquiatria e doenças mentais eram cercados de mistério e medo. Hoje, existe um enorme progresso em nossa compreensão das doenças mentais e em nossa capacidade de oferecer tratamentos eficazes. No entanto, as perguntas sobre a doença mental, muitas vezes ficam sem resposta e podem influenciar na procura de ajuda devido falta de informações e preconceito.


O que é doença mental?
 A doença mental é uma doença do cérebro (e não apenas uma doença da "mente"). Ela geralmente afeta a forma como uma pessoa pensa, sente, se comporta e interage com outras pessoas e com o ambiente. É uma doença comum: a cada ano, um em cada cinco adultos é diagnosticado com uma doença mental. O termo "doença mental", na verdade, engloba vários transtornos psiquiátricos, e assim como as doenças que afetam outras partes do corpo,  podem variar em termos de gravidade. Como o termo "doença mental" adquiriu uma conotação pejorativa para muitas pessoas, é melhor usar o termo "doença / transtorno psiquiátrico".


 Como  o médico  psiquiatra trabalha e como ele pode me ajudar?

O psiquiatra é um médico que se especializa no diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos psiquiátricos. A assistência psiquiátrica envolve uma avaliação exaustiva da saúde física e emocional e a formulação/  implementação de um plano de tratamento individualizado, que pode incluir medicação, psicoterapia ou outras modalidades.Psiquiatras ajudam os pacientes a entender a doença e ajudam os mesmos  identificar os problemas da vida que contribuem para a doença. Esses problemas podem estar associado com dificuldades no trabalho, na escola ou na família / comunidade. As pessoas procuram ajuda psiquiátrica por muitas razões. Quando os desafios da  vida moderna tornam-se insuportáveis , tornando as relações interpessoais  perturbadas, ou quando as angústias causadas pela  ansiedade , facilmente descartadas anteriormente como simples "nervosismo" , ficam mais nítidas e duradouras.  Quando os problemas e as emoções  que surgem em reação ao estresse diário podem se tornar incontroláveis. Comer pode se tornar um refúgio, ou o sono pode ficar instável, mesclando sonolência excessiva diurna ou insônia noturna. Álcool ou drogas podem ficar fora do controle.

A lista de problemas é longa: um ataque de pânico, alucinações assustadoras como "vozes" que sussurram palavras intrusivas e incompreensíveis, uma tristeza que nunca desaparece. Esses problemas deixam a vida cotidiana  difícil, fora de controle e insuportável .

Muitas das pessoas com os problemas descritos acima não percebem que estão doentes. A grande maioria deles não são "loucos", em qualquer sentido do termo. No entanto, todos vão se beneficiar com uma ajuda psiquiátrica.


Quais são os sinais de doença psiquiátrica?
Uma pessoa com um ou mais dos seguintes sintomas deve ser avaliada por um psiquiatra, o mais rápido possível:

  • Mudança evidente de personalidade
  • Incapacidade de lidar com problemas e atividades diárias
  • Idéias incomuns
  • Preocupações excessivas
  • Tristeza prolongada e apatia
  • Mudanças marcantes no padrões de alimentação e sono
  • "Altos e baixos"  extremos do humor
  • Abuso de álcool ou drogas
  • Raiva excessiva, hostilidade ou comportamento violento.

Uma pessoa que pensa ou fala sobre suicídio ou homicídio deve procurar ajuda imediatamente.


A doença mental é uma fraqueza da mente. Se a pessoa se esforça o suficiente, ela pode superar esses problemas por conta própria. Por que os medicamentos são necessários?
O termo "doença mental" é  infeliz, porque implica numa distinção entre "distúrbios mentais", baseados na "mente" e transtornos "físicos", baseado no "corpo". A neurociência mostra que há muita coisa que é "físico" em distúrbios "mentais" e vice-versa. Por exemplo, a química cerebral de uma pessoa com um transtorno psiquiátrico,  como na  depressão,encontra-se  diferente da encontrada em uma pessoa saudável, e o tratamento com medicamentos traz o funcionamento químico cerebral de volta ao basal.

Pode parecer surpreendente, mas os pensamentos, sentimentos e comportamentos "normais" são determinados pelas ações de certas substâncias químicas no cérebro. A gama de emoções que uma pessoa experimenta em várias situações, e as diferenças de natureza e temperamento entre uma pessoa e outra, são determinada por pequenas variações nos níveis dessas substâncias químicas.

É um mito que a doença mental é uma" fraqueza" ou "defeito de caráter "e que os pacientes podem melhorar simplesmente pelos seus "próprios esforços". Os transtornos mentais são doenças reais, assim como doenças cardíacas e câncer, que necessitam e respondem bem ao tratamento médico. Fica muito evidente que as pessoas e os próprios médicos se esquecem disso. Por exemplo, muito médicos que trabalham em pronto-socorros dizem ao paciente com ataque de pânico que eles "não tem nada"  e que o problema é "emocional" e na grande maioria das vezes, não encaminham os pacientes para uma tratamento especializado, deixando os pacientes confusos, desamparados e mais sintomáticos.


Ouvi dizer que os medicamentos psiquiátricos provocam muito efeitos colaterais, é verdade?
Os medicamentos psiquiátricos são como qualquer  outro medicamento: eles possuem  benefícios  e  efeitos colaterais. Antibióticos, que curam as infecções bacteriana, podem causar náuseas. Anti-hipertensivos  podem causar tonturas e pressão baixa. Mesmo as drogas, vendidas sem receitas,podem causar numerosos efeitos colaterais:  remédios anti-alérgicos , podem causar sonolência, enquanto a dipirona pode causar reação alérgica grave em certas pessoas.

Um dos aspectos mais surpreendentes das medicações, é a forma como duas pessoas que tomam o mesmo medicamento pode ter experiências  totalmente diferentes. Uma pessoa pode ter efeitos colaterais incômodos, enquanto outra pessoa descobre que o remédio só traz benefício.É muito importante,  lembrar o seguinte: os efeitos colaterais são possibilidades, não certezas. Medo excessivo sobre efeitos colaterais prejudica o tratamento. Além disso, é importante lembrar que, enquanto os efeitos benéficos aparecem ao longo do tempo, a maioria dos efeitos colaterais tendem a diminuir com a adaptação à medicação, na verdade, alguns efeitos colaterais desaparecem completamente com o tempo.Os psiquiatras sempre  avaliam o risco de efeitos colaterais em relação ao benefício esperado de qualquer medicação. Os médicos são treinados para avaliar esse risco / benefício.


Por quanto tempo o paciente deve tomar os medicamentos?
A duração do tratamento psiquiátrico depende do indivíduo e da desordem. Muitas pessoas deprimidas e ansiosas podem precisar de medicação por um período, geralmente alguns meses ,e depois nunca mais precisaram dela novamente. Pessoas com esquizofrenia,  transtorno bipolar ou aqueles cuja depressão ou ansiedade é crônica ou recorrente, pode necessitar da  medicação indefinidamente.


A medicação psiquiátrica causa dependência?

Dependência significa uma incapacidade de parar de usar uma substância química que o corpo não precisa, apesar das consequências adversas do uso continuado. Observe dois componentes importantes na definição anterior:  O corpo não precisa da substância química,e a substância química provoca danos corporais. Exemplos de tais substâncias químicas incluem: etanol (álcool), maconha e cocaína.

Agora, vamos considerar os diabéticos, muitos dos quais usam comprimidos ou injeções de insulina,como aconselhado por seus médicos, para manter a doença sob controle. Eles são viciados em seus medicamentos? De jeito nenhum! Por um lado, o seu corpo necessita do medicamentos para melhorar os sintomas da doença. Por outro lado, não tomar os medicamentos podem causar danos físicos, e não o contrário. A lista de tais doenças médicas (e medicamentos) é longa: a pressão arterial elevada (anti-hipertensivos), colesterol alto (estatinas) e hipotireoidismo (hormônios da tireóide) são alguns exemplos.

A mesma lógica se aplica a medicamentos psiquiátricos: uma pessoa com esquizofrenia, por exemplo, precisa de antipsicóticos para manter a doença sob controle - não tomá-los o coloca em risco de sofrer uma recaída. Neste contexto, não há nenhuma maneira da palavra "vício" ser usada com qualquer justificativa.


Gustavo R. C. Quirino - Médico Psiquiatra

CRM-SP: 130.073 / RQE-SP: 36.694

Lagus Clínica de Saúde Mental - Santos/SP